Lições de magia, um
é preciso desestabilizar
o dizer, fazer as coisas ditas caírem no abismo de si mesmas – a tristeza
escuta, como é que se rega o amor desta mesma escuta – é preciso que as
tristezas todas sejam eivadas – a dor quer ser silenciosa – a palavra conduz,
mas não doma o animal – o cavalo em pelo absurdo fica colado à sela invisível
colada ao corpo da amazona, uma coisa só que se despedaça em muitas outras
quando a amazona desce de si e segue para o seu desjejum ou sua morte – quando
estão juntos nenhuma respiração oscila – estão imunes ao dizer – estão
contagiados – nenhuma lei, a profícua alegria, a nomeação rara dos silentes –
não jogam teias no possível futuro, não afivelam impossíveis outros tempos, não
fogem pelo espaço ao espaço – o dom de um infinito é abismo – cavalgam
-
Veja Teresa,
por que é que eu disse o que disse?
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Foste tu quem
o disseste, realmente?, indagou Teresa
-
Foi algo em
mim que se iniciou e é agora algo em ti que parece carregá-lo.
-
O que mesmo
disseste?
-
Dissemos que
existe um desejo maligno nas pequenas memórias,
-
E como o
disseste?
-
Talvez tenha
sido raptada.
-
Nós duas?
-
Nós duas e ela
também.
-
São só as
palavras que fazem punir?
-
Não, mas as
que fazem mais.
-
E agora, como
é que nos encontramos?
-
Terás o
desafio de esquecer.
-
Talvez fingir
que esqueço.
-
Talvez.
-
Talvez.
-
Operar o
começo das separações.
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Das escolhas.
-
Venha como
serão tuas compreensões.
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Mas o desejo?
-
Inverte a
ampola, pões-te no lugar de quem te ouviria
-
Pensar que
sou eu a dizer? A atrocidade?
-
Sim, limiar
na mão, dedo que aponta
-
Deixando tudo
a perder-se e perdoar-se
-
É então assim
o silêncio?
-
A hera que
abriga o teu repouso
-
Como um elo?
-
Como a
palavra de denso amor
-
É disto que
me lembrarei
-
É disto que
nos lembraremos
-
Você está aí,
Teresa?
-
Aqui, te
escuto.
-
Te escuto, um
rio de reinício.
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A milésima
enxurrada
-
O erro
sintomático de verter
-
De dizer,
Teresa, de dizer
-
Água para todo
lado:
é então onde renovo a tua
pele
os escorbutos e os
gengibres selam os modos
–
dupla
concavidade do real –
princípios sonoros da
aragem
a cotovia desce ao berço
sonolento
põe porosidades, amor,
gotículas de sal
e vocálicas, como o
primeiro órgão
da manhã – lúcifer,
destino – esta colcha
envelhecendo-se em
currais, leite, moscas
do canavial
isto tudo se despede,
abre a cartilagem
dissolve-se no choque
elétrico da brancura
e vem à realeza, onde,
nos apresentamos:
não seremos dos lugares,
isto nos respira – o só
é mata-burros, os animais
têm asas e tu pegas
o carvão das foices,
molhas o ato num desenho
aberto – é então a pele,
silvestre em que se
experimenta
o onde
sanguíneos, amamos