com
uma tela de cinema no meio, mulheres de infâncias,
aderimos
ao segredo, uma festa íntima
regada
a sono e abertura
No
dia seguinte seguíamos à terra
o
homem que não conheço estava lá nos esperando
entrei, ele me apontava os detalhes do barro
a
casa muito pequena e vermelha
como
uma casa de sol, cautelosa
Sentados no jardim, próximo das máquinas
de
semear e colher, ele me dizia como funcionavam os dias
eu
escutava e a serpente imensa vermelha e negra se acomodou
eu
pensava nesta serpente que, imensa, dava para rodear um riacho todo
seu corpo sendo assim a borda do rio, o limite das águas
e
estaríamos seguros ali dentro
a
cabeça da serpente estava próxima de minhas pernas
uma
cabeça grande, os olhos semicerrados e a boca muda
eu
a toquei, não próxima da cabeça, mais abaixo, como convém
à
majestade
o
homem ainda falava e um cavalo-égua alazão
entrou
no círculo da serpente, imenso, reluzente
e
olhando-nos se agachou e depois se deitou
apoiando
sua enorme cabeça em meu colo
respirando
muito próximo de minha barriga
soube uma manta de pepitas de fogo sobre a pele
o
entendimento apenas de beleza que era a graça
e
a noite que se ungia
Neste
momento estávamos quase todas ali, as mulheres de infâncias
íamos
chegando, trazíamos uma boca aberta, coisas de beber, coisas de comer
a
casa se ampliava para nós, nos abraçávamos, quanto tempo
esperávamos
por aquela lua e aquele sol
o
sol entrava em gêmeos, a lua estava em Áries
eu
faria dizer as palavras do rito
todas
as outras, em roda, esperavam excitadas
quando
chegasse o ponto de ascendência, a
dança das imagens
apenas
uma, a amiga densa, antiga como as outras,
desistira
da noite
olhava
ao redor com impaciência, dizia coisas que desmanchavam
a
paisagem
Mas
tinha havido a noite passada
em
que todas, menos aquela, soubessem da maravilha
e
não desistissem
Na
noite passada atravessamos o espelho
o
que diziam pela minha boca: veja
pela
prata líquida dos passados,
numa
das vidências, alguém nadava
pois que o eixo d'água era nela haver um prêmio
dentro
do trabalho exímio de nadar,
outra
escutava a voz de um tio que lhe passava
o
número de telefone do Sr Pi, um número com
100
letras, e que ela lhe telefonasse
outra,
variante, via-se de outros numes, e em cada
uma
a noite se fazendo circular e audível
Nesta
noite no entanto era o duplo que seria tocado
a
descida do sol sendo mais íngreme, o mercúrio
alado
em sua gangorra vestiria o portal psicopompo
e
a nós nos seria dado o gosto
daquela
que nos vive oculta
Não
fosse a amiga cismada, querendo ligar a televisão
e
que pulássemos o ritual e fôssemos diretamente
cada
uma contar de sua vida, suas domesticidades,
suas
violências. Eu tentava dissuadi-la abraçando
as
outras com a força da noite anterior. Nada estaria
O
ritual frágil, perene, simultaneamente
e
só acontecia se inteiro, entregue, inofensivo
dos
medos
O meu duplo era ela
acordado pelo sol não noturno
e era preciso seguir o ritual
seduzindo sem infâmia ou capricho
a força contrária que me dissolvia
pois que à noite a noite fosse erguida
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