quinta-feira, junho 2

al berto, roubado para o contágio

Diante de si mesmo, imobilizado, os animais da noite aproximam-se e falam-lhe baixinho. a terra abre-se à subtilidade dos fogos, gera-se um novo corpo no princípio imemorial do ouro e das geadas.


os animais são formas etéreas coladas à pele. da humilde casa que habitamos pouco resta. as urzes irrompem, recortam-se no escuro, e as sombras dos frutos em contraluz formam geometrias e constelações. um peixe brilha sobre as pedras, morto.



enumero por fim os alimentos, o olho, o círculo das chamas, a luz dos dias sem ninguém.



ele fala com os animais da noite, segreda o que em voz alta não é possível dizer. prepara o lume, solta as aves, adormece em cima do mar.



silhuetas sentadas à fogueira da noite escutam o silêncio sibilante dos astros. crepitam insectos, vozes mágicas.


vamos pelas dunas da manhã, nómadas onde um rosto nos recorda o inaudível canto da noite que fomos: a fresca Alba das galáxias.




Al Berto, de “Meditação em S. Torpes”, 1979

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