sábado, maio 14

livro do contágio, página 46, para ler com espumas



(mordo o lábio de baixo,

aprendi a fazer isso com o cinema americano as sibilas sonsas do cinema americano e salubre cintura bem ajustada no cilindro das esperas, janelas altas impossíveis de escalar, mordo o lábio e repenso o reparo de estar dia-a-dia defronte à janela e querendo que na laje adiante alguma calça azul se dispa e que alguma mão contorne algum desejo em rumo ascensional, reparo que a cortina mourisca que me cobre abre furos octogonais por onde o olho cabe em perfeição por onde o olho esbarra nos andares dos outros edifícios na espera abrupta de alguém que tire as calças e depois jogando os braços para os céus faça das nuvens da cidade um desenho erótico – como uma caravana de ciganos velhos – e depois rodopiando o corcel de suas patas veja meu olho, octogonal tímido, dentro da casa avarandada e dentro do manjericão farejante, que me buscassem numa partida circense
eu já nua com as meninas ciganas
as crianças dançarinas
com sapatos cheios de pregos e gargalhadas
batendo na terra arando a paisagem
eu e as meninas
luas-cheias de sexo

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